Baleação

De grande importância para a economia das ilhas, principalmente do Faial e do Pico, a caça à baleia desenvolveu-se essencialmente na segunda metade do século XIX.

Do cachalote aproveitava-se tudo. A gordura transformada em óleo é exportada para o estrangeiro para ser usado como combustível e lubrificante ou utilizado na indústria farmacêutica e de cosmética, no fabrico de sabonetes e perfumes. Os ossos quando transformados em farinha serviam como fertilizantes e rações para gado. Quando no interior do cachalote se tinha a sorte de encontrar âmbar, o lucro da caça duplicava, visto ser um produto muito raro e consequentemente de grande valor comercial.

Tudo começava com o lançar do foguete pelo vigia colocado em pontos altos e que durante horas a fio perscrutava, com o seu binóculo o mar à procura dos movimentos ou do bufo dos cachalotes. Era o sinal para juntar a tripulação e lançar os botes ao mar em perseguição destes mamíferos. Faina que podia durar horas ou até dias.

Vislumbrando uma luta duríssima e perigosa entre homem e animal, com técnicas arcaicas e embarcações pequenas e frágeis, os sete tripulantes de cada bote faziam-se ao mar, cada um com a sua função bem determinada, muita bravura e ousadia.

O bote baleeiro açoriano é uma embarcação única e bela pela sua aerodinâmica, adaptada das canoas que seguiam a bordo dos grandes navios baleeiros americanos no século XIX e que enchiam a Baía da Horta, para aqui receberem como tripulantes os valentes marinheiros das ilhas, aliás como descreve Melville no seu famoso Moby Dick” (1851) “ Um não pequeno numero de baleeiros procedia dos Açores, onde frequentemente, as barcas de Nantucket lançavam ancora para completar , com entroncados campesinos dessas ilhas rochosas, as suas tripulações …era entre os insulanos que saíam os melhores baleeiros “

A dimensão épica da caça à baleia nos Açores inspirou muitos artistas, historiadores, jornalistas e escritores ao longo de décadas como Raul Brandão (Ilhas Deconhecidas); Vitorino Nemésio (Mau tempo no Canal); Bernard Venables (Baleia!); Dias de Melo (Mar pela Proa); António Tabucchi (A Mulher de Porto Pim) entre tantos outros.

A caça à baleia terminou nos anos oitenta do século XX mas mantém-se o orgulho na história da faina e tradição baleeira com a recuperação do seu património com fins culturais como o Museu dos Baleeiros, nas Lages do Pico ou a Fábrica da Baleia de Porto Pim no Faial, ambos de visita obrigatória. Com fins também desportivos recuperaram-se botes baleeiros que rivalizam em regatas à vela e a remos com equipas das diferentes ilhas ou em regatas internacionais com botes americanos de New Bedford.

A Caça à baleia deu lugar ao Whale Watching, contributo para o turismo regional e que de ano para ano vê crescer o numero de visitantes que não regressam a casa sem antes viver a experiência de ver, fotografar e se emocionarem com estes seres do mar, nos Açores.