Horta dos Cabos Submarinos – Uma era cosmopolita

Este roteiro propõe uma visita aos locais mais marcantes do virar do século XIX para o século XX, época em que a Horta assiste a um dos seus períodos de maior desenvolvimento tecnológico, cultural e arquitetónico, permitido pela sua posição geoestratégica no oceano Atlântico.

Nos finais do século XIX, passa de modesta vila mercantil a cidade portuária de grande movimentação, sendo beneficiada com a construção do porto artificial.

No início do século seguinte, torna-se num dos maiores nós de cabos telegráficos submarinos do mundo. Chega a acolher diversas companhias operadoras de outros países, assim como os seus quadros de técnicos cabografistas, o que vem não só transformar a malha urbana da cidade, como a própria cultura e hábitos da vivência faialense.

Há também uma interessante evolução da própria arquitetura, nomeadamente através de belos exemplos com caraterísticas decorativas da arquitetura eclética e inspirações no estilo Art Déco.

1. Casas de amarração

Estas construções assinalam o local de amarração do segundo grupo de cabos telegráficos submarinos, lançados entre 1923 e 1928. A partir daqui, os cabos seguiam através de condutas subterrâneas para a Estação Conjunta de Cabos.

2. Peter’s Café Sport

Este café é um dos pontos de paragem obrigatória para qualquer visitante da cidade da Horta.

Este estabelecimento é fundado em 1918, tendo adquirido, ao longo de décadas, notoriedade nacional e internacional dada a sua localização privilegiada, próxima do movimento portuário. Nas últimas décadas, tem-se tornado uma referência para os iatistas, que aqui podem contar com troca de correspondência, obtenção de informações e operações de câmbio.

Mas é, acima de tudo, um ponto de encontro. Além destas caraterísticas, é também um local de divulgação de temas relacionados com a vida marítima e o próprio arquipélago dos Açores.

O Peter Café Sport é um local particular de projeção mundial, definido pela sua imagem e bebida de marca, – respetivamente, o cachalote e o gin tónico – e pelo seu ambiente, uma verdadeira tertúlia de homens de diversas terras e mares.

3. Trinity House

Foi edificada em 1902 e deve o seu nome ao de facto nela terem funcionado, em simultâneo, as três primeiras companhias de cabos telegráficos instaladas na Horta: a britânica Europe & Azores Telegraphic Company, a alemã Deutsche AtlantischeTelegraphen-Gesellshaft ou D.A.T., e a americana Comercial Cable Company ou C.C.C..

A Estação Conjunta de Cabos foi construída entre 1926 e 1928, e encontra-se unida pelo lado sudeste à Trinity House, formando assim um único edifício.

Este edifício é, atualmente, adaptado às funções escolares da Escola Básica António José de Ávila.

4. Colónia Alemã

Este bairro residencial de 1919 é composto por cinco edifícios que alojariam os quadros da companhia operadora de cabos submarinos alemã, D.A.T. (Deutsch Atlantische Telegraphen Gesellschaft).

De caraterísticas germânicas, destaca-se do conjunto a Casa do Relógio, com uma entrada em forma de pórtico e, no piso superior, uma pequena torre com um relógio.

Tanto neste edifício como no contíguo, sobressaem os vitrais com a heráldica de diferentes regiões da Alemanha.

Aqui estão atualmente instalados diversos departamentos do Governo Regional dos Açores.

5. Banco de Portugal

Este edifício é projetado pelo arquiteto português Adães Bermudes e é inaugurado no dia 25 de Fevereiro de 1935. Aqui funcionou a agência da Horta do Banco de Portugal até aos finais do século passado.

De aspeto monumental mas de linhas simples, o desenho da grande fachada apresenta inspirações no estilo Art Déco. Tanto esta como o próprio passeio são em pedra calcária.

Dá lugar, atualmente, ao Banco de Artistas, uma “oficina cultural” que desenvolve diversas atividades, nomeadamente exposições e workshops.

6. Café Internacional

Visitar o Internacional é uma experiência estimulante, pois o seu interior tem a particularidade de remeter à atmosfera de uma época passada, mais precisamente, de há quase um século atrás. Instalado num edifício de decoração eclética, este estabelecimento é fundado em 1926, sendo a sua decoração típica da belle époque.

Aqui é possível observar um desenho do pintor Almada Negreiros, um dos artistas percursores e mais influentes do Modernismo português.

7. Amor da Pátria

A Sociedade Amor da Pátria foi fundada a 28 de Novembro de 1859 e tinha a sua sede no antigo solar que pertenceu aos descendentes de um dos primeiros povoadores do Faial, Josse Van Aard. No entanto, esta é destruída por um violento incêndio em 1930, levando à constituição do edifício atual. Este é inaugurado a 30 de Junho de 1934, sendo da autoria do famoso arquiteto português Joaquim Norte Júnior (distinguido por diversas vezes com o Prémio Valmor).

De inspiração no estilo Art Déco, contém de corações com símbolos maçónicos e apresenta também uma interessante introdução de um elemento típico da região – as hortênsias azuis –, presentes em frisos relevados na fachada. Ainda, no exterior, estão dois exemplares de dragoeiros (Dracaena draco), espécie arbórea classificada.

Atualmente continua a desenvolver diversos even- tos de caráter social e cultural.

8. Antigo Hospital Walter Bensaúde

Até aos inícios do século XIX, o Hospital da Santa da Misericórdia da Horta localizava-se nas proximidades da rua D. Pedro IV, passando posteriormente para os edifícios do antigo convento de São Francisco, destruído por um incêndio em 1899. Este novo hospital, inaugurado em 1911, é possibilitado através de uma angariação de fundos junto das figuras de prestígio da ilha, sendo Walter Bensaúde, destacado empresário e benemérito da Santa Casa da Misericórdia, o maior doador.

Assim, o hospital recebe o seu nome, passando a denominar-se Hospital Walter Bensaúde da Santa Casa da Misericórdia da Horta.

Atualmente serve o novo pólo universitário da Universidade dos Açores e aqui se encontra instalado o

9. Igreja da Conceição

A localização desde templo marca um dos primeiros focos de povoamento da Horta, sendo a primeira edificação consagrada a Nossa Senhora da Conceição erguida no século XV.

No entanto, é destruída em 1597 pelos corsários ingleses, e posteriormente reedificada em 1607 e depois ampliada em 1749. Esta versão, de maiores dimensões e com duas torres sineiras, acaba por ser destruída pelo terramoto de 31 de Agosto 1926.

A versão atual tem a primeira pedra lançada a 1933, resultando numa igreja de traçado inspirado no estilo Art Déco.

10. Teatro Faialense

O gosto pelo teatro começou na ilha em meados do século XIX, funcionando primeiramente num granel e de nome Tália. Este local seria propriedade de João de Bettencourt, advogado entusiasta do teatro, sendo que, dado o sucesso e a afluência deste recinto, inaugura o primeiro edifício em 16 de setembro de 1856. Este é denominado Teatro União Faialense, considerado o primeiro teatro regular dos Açores.

O edifício atual é inaugurado em 1916 e com o nome Teatro Fayalense. Com o advento do cinema, o teatro rapidamente se adaptou, primeiro com a instalação de um animatógrafo e, mais tarde, com a aquisição de equipamentos para a exibição de filmes sonoros. O primeiro ocorreu no dia 31 de Maio de 1933.

A fachada principal e o magnífico interior da sala de espetáculos mostram influências de arquitetura ecléctica da época de transição do século XIX para o XX.

Ainda na sala de espectáculos, é possível observar, atualmente, uma pintura contemporânea do artista açoriano José Nuno da Câmara Pereira.

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